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3.04.2013

O SENHOR IBRAHIM E AS FLORES DO CORÃO


Em Paris, nos anos 60, Momo, um rapazinho judeu de doze anos, torna-se amigo do velho merceeiro árabe da rua Bleue. Mas as aparência iludem: o Senhor Ibrahim, o merceeiro, não é árabe, a rue Bleue não é azul e o rapazinho talvez não seja judeu.

"- Porque nunca sorris, Momo? - perguntou-me o Senhor Ibrahim.
Esta pergunta era um verdadeiro murro, um golpe tramado, não estava preparado para ela.
- Sorrir é coisa para pessoas ricas, senhor Ibrahim. Não tenho meios para isso.
Para me aborrecer começou precisamente a sorrir.
- E julgas que eu sou rico?
- Tem sempre notas na caixa. Não conheço ninguém com tantas notas à frente durante todo o dia.
- Mas as notas servem para pagar a mercadoria e a renda. Sabes, pouco me resta no fim do mês.
E sorria ainda mais, como que para me provocar.
- Senhor Ibrahim, quando digo que é uma coisa de pessoas ricas, quero dizer que é algo para pessoas felizes.
- Pois bem, é aí que te enganas. É o facto de sorrir que nos faz felizes.
- Uma ova.
- Experimenta.
- Uma ova, já disse.
- És bem educado, não és, Momo?
- Que remédio, senão apanho uns tabefes.
- É bonito ser bem-educado. Amável é ainda melhor. Experimenta sorrir e logo verás.
(...)
No dia seguinte comporto-me mesmo como um doente que tivesse sido picado toda a noite: sorrio a todos.
- Não, senhora doutora, peço desculpa mas não compreendi o exercicio de matemática.
Pumba: sorriso.
- Não consegui fazê-lo!
- Pois bem, Moisés, vou explicar-te outra vez.
Nunca tinha visto uma coisa assim. Nada de descomposturas, nem de avisos. Nada.
Na cantina...
- Não se importa de me dar mais um pouco de creme de castanha?
Pumba: sorriso.
- Sim, com queijo fresco...
E obtenho-o.
(...)
É a embriagez. Já nada me resiste. O senhor Ibrahim deu-me a arma absoluta. Metralho toda a gente com o meu sorriso. Nao me tratam mais como um chato.
(pag.22)

2 comentários:

  1. Que comece rapidamente a 3ª grande guerra mundial, mas desta vez com inovadoras armas: Risos, sorrisos, gargalhadas, abraços, beijos... respirar, Rodopiar, DAR! E se não é isto o que Miguel Seabra, que por mero acaso é actor, faz durante de 2 horas, o que será DAR! Escrevo aqui, o que não tive oportunidade de escrever no livro de visitas do Teatro Meridional. Ora aqui vai: Obrigado. ASS: Jorge

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  2. Desperta curiosidade pelo livro, é uma passagem bonita :)

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