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3.12.2013

MÃE

Dou-te tudo o que tenho através das palavras vividas com carinho delicadas sentidas oferecidas a ti não sei porquê não quero saber porquê que não estou interessada apenas sei que me faz doer o peito senti-lo de peito apertado preocupando-me e dando-te o meu pouco tempo ou muito tempo ou só tempo que ele é sempre o mesmo e com ele brinco aos balanços e balancetes de uma ou várias vidas vividas com ou sem alma - que me interessa isso - desde que a acidez não vingue e que o meu destinatário não chore que não gosto não quero  o que sei da dor é o que há para saber da dor é dor e a dor é sempre igual em qualquer latitude não te faço chorar, com o carinho este carinho que surge do nada e sem saber porquê actor ou piegas ator-piegas só ator não não há atores tão verdadeiros nem o Pessoa que fingia aquilo que nós sabemos que não fingia não sou não serei bálsamo seu nem de ninguém apenas uma voz que atravessa a noite e lhe chega de mansinho para lhe dizer ao ouvido que lhe querem bem que lhe quero bem que ela te quer bem, meu querido.. sim, sim que há mensagens que me enviam as estrelas e o céu e o mar e a terra toda inteira me grita que sim que sim que somos pouco somos nada e este nada que é tudo merece mais do que este rodopio em chuva ácida em que sem querer se cai e eu não gosto não gosto que dances nessa chuva e não perguntes porquê não me perguntes porquê não me perguntes porquê ... eu não gosto de porquês... eleita de atenção sim basta de ti basta de mim basta
                                       de dor 
                                       de rodopios
                                       de dúvidas
                                       de desalmas
                                       de lágrimas 

3.04.2013

TALES OF ORDINARY MADNESS




I felt like crying but nothing came out, it was just a sort sad 

sickness, sick sad when you can't feel any worse. I think you 

know it. I think everybody knows it now and then. But I 

think I have it pretty often, too often.


Charles Bukowsku, Tales of Ordinary Madness

DEPRESSA E MAL


E foi então que ela o olhou de cima a baixo depois de o ouvir falar, e disse para com os seus botões: 
- Este deve fazer sexo como fala. Depressa e mal.

O SENHOR IBRAHIM E AS FLORES DO CORÃO


Em Paris, nos anos 60, Momo, um rapazinho judeu de doze anos, torna-se amigo do velho merceeiro árabe da rua Bleue. Mas as aparência iludem: o Senhor Ibrahim, o merceeiro, não é árabe, a rue Bleue não é azul e o rapazinho talvez não seja judeu.

"- Porque nunca sorris, Momo? - perguntou-me o Senhor Ibrahim.
Esta pergunta era um verdadeiro murro, um golpe tramado, não estava preparado para ela.
- Sorrir é coisa para pessoas ricas, senhor Ibrahim. Não tenho meios para isso.
Para me aborrecer começou precisamente a sorrir.
- E julgas que eu sou rico?
- Tem sempre notas na caixa. Não conheço ninguém com tantas notas à frente durante todo o dia.
- Mas as notas servem para pagar a mercadoria e a renda. Sabes, pouco me resta no fim do mês.
E sorria ainda mais, como que para me provocar.
- Senhor Ibrahim, quando digo que é uma coisa de pessoas ricas, quero dizer que é algo para pessoas felizes.
- Pois bem, é aí que te enganas. É o facto de sorrir que nos faz felizes.
- Uma ova.
- Experimenta.
- Uma ova, já disse.
- És bem educado, não és, Momo?
- Que remédio, senão apanho uns tabefes.
- É bonito ser bem-educado. Amável é ainda melhor. Experimenta sorrir e logo verás.
(...)
No dia seguinte comporto-me mesmo como um doente que tivesse sido picado toda a noite: sorrio a todos.
- Não, senhora doutora, peço desculpa mas não compreendi o exercicio de matemática.
Pumba: sorriso.
- Não consegui fazê-lo!
- Pois bem, Moisés, vou explicar-te outra vez.
Nunca tinha visto uma coisa assim. Nada de descomposturas, nem de avisos. Nada.
Na cantina...
- Não se importa de me dar mais um pouco de creme de castanha?
Pumba: sorriso.
- Sim, com queijo fresco...
E obtenho-o.
(...)
É a embriagez. Já nada me resiste. O senhor Ibrahim deu-me a arma absoluta. Metralho toda a gente com o meu sorriso. Nao me tratam mais como um chato.
(pag.22)