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2.25.2013

PORQUE SIM

Por que não desisto já? Porque esta vida neste mundo é ainda o campo de todas as possibilidades.

2.19.2013

O BONECO



"Influenciável. E oco. É o que tu és: um cabrão de um influenciável oco. Afirmas o que queres negar e negas o que queres afirmar. Influenciável. É o que tu és: um passador no tráfico de influências (nem a estatuto de traficante tens direito); o tipo que recebe a influência de braços abertos e a distribui por inocentes sem pensar. E sem pesar consequências ou danos – tantas e tantas vezes irremediáveis. 

Influenciável. E oco. É o que tu és: um títere, um boneco movido pelos cordéis da ambição e engonços do poder. A fantochada corre-te nas veias e sentes que tens veia para manobrador – tu, logo tu, ó manobrado mor. É o que tu és: um imitador de gestos humanos, um bufão que se deixa levar facilmente por outrem palhaço- só o mando de outro de inspira e te faz agir. Então é assim, autómato: admite, em definitivo, que és um influenciodependente. Vai-te tratar. 
A influenciodependência: esse aditivo que destrói amores- que já destruiu o teu amor. E o que precisas, ó bonifrate, é de uma droga de amor. Sim, uma droga de amor. E das pesadas. Uma boa trip de amor, bem injetada, e que te faça correr amor nessas veias; o amor que assumiste como perdido, mas que te corre no sangue- ainda. E és compatível, totalmente compatível, absurdamente compatível. Só precisas de desatar – mesmo que seja à dentada- o garrote que sempre te aperta o espirito e voar. Vá, fantoche, deixa-te transplantar e recebe, na plenitude do teu eu, um novo sangue: sangue tipo A- sangue tipo Amor."

Rui Miguel Mendonça

2.17.2013

FELICIDADE


Por vezes, penso que sou feliz. Hoje, por exemplo, acordei com sol, o que à partida é meio caminho andado para a felicidade; celebrei o aniversário da minha mãe, o que também me deixa radiante; e até consegui, com relativa facilidade, antever uns dias de férias. Possuo, desta forma, e de acordo com as mentes mais pragmáticas, todos os ingredientes necessários para a dita cuja.

Ora bem, a verdade é que tenho dias. Como a Cecília Meireles, tenho fases, tal como a lua. E tanto posso acordar com a sensação de que as torres gémeas voltaram a cair, como com a ideia de que tudo é fácil, porque para mim tudo é possível.

Uma vez confessei sentir-me feliz. Foi um desabafo, num daqueles dias em que acordo plena de energia e grata ao universo por existir. E leve. Extremamente leve (o que para mim é um grande sinal de felicidade). Mas alguém me disse (não me lembro já quem) para ter cuidado com o que dizia. É verdade que há pessoas que cultivam a tristeza. Mas, não é bem o meu caso. Nada me agrada mais que umas boas gargalhadas decorrentes de uma boa dose de non sense. E tenho, felizmente, alguns amigos/amigas peritos nisso. Confesso, porém, que há dias em que sinto escurecer por dentro. Mas faço sempre o possível (e o impossível) por renascer no dia seguinte, logo de manhãzinha.

2.10.2013

VIVER OU FUGIR?

Viver uma paixão com data marcada para acabar ou recusar o fogo e simplesmente fugir?

QUASE QUASE


Andou o caos por aqui. Sabes a que me refiro. Espreitei apenas o abismo quando te conheci. E agora? Agora estou quase quase a atirar-me por aqui abaixo...


SAPIOSEXUAL


OS DEZ MANDAMENTOS

Parece que são 10, os mandamentos para uma relação minimamente estável e eu não sabia:

1. Ser correspondido
2. Ter-se coisas em comum
3. Conhecer o outro em vez de o imaginar ou projetar à nossa medida
4. Não nos matar de tédio
5. Apresentar as regras do jogo antes de jogar
6. Se já o fez antes, pode voltar a fazê-lo agora
7. Negociar e nunca sacrificar
8. Não guardar segredos
9. Ser igualitária
10. Fazer-nos sentir felizes

INTIMIDADES


Todos nós tememos a intimidade ainda que não tenhamos consciência disso. Somos estranhos uns aos outros. Somos estranhos a nós próprios, talvez porque não sabemos quem somos. Não fazemos um trabalho sobre a nossa individualidade. Passamos o tempo ocupados em coisinhas inúteis e deixamos o principal trabalho, o mais valioso, o mais importante - conhecermo-nos a nós mesmos - para trás. 
Passamos anos e anos reprimidos, em relações (pessoais, familiares, sentimentais, profissionais) adormecidas, se não mortas, acatando as regras e as imposições que nos foram impingindo ao longo dos tempos.
Esquecemos a nossa fragilidade. Ignoramos que a vida pode quebrar-se a cada instante. Esquecemo-nos de nos aceitar tal qual somos. As pessoas comprometem-se pouco ou da maneira errada. Acredito na liberdade individual. Nos relacionamentos em que cada ser mantém a sua individualidade e a sua liberdade mais íntima e profunda. Desconfio das relações em que os dois se tornam um. Há "deves" em excesso por este mundo. Há muitas faces. Olho em meu redor e observo. As pessoas não são o que dizem ser. E, sobretudo, não se aceita quando há pessoas que ousam ser diferentes. Imediatamente, recebem rótulos. Penso, contudo, que são essas (poucas) pessoas que estabelecem a diferença no mundo... as que têm em mãos o seu desenvolvimento pessoal. Há pessoas que passam a vida a dar lições de moral ou a tentar mudar os outros - as mesmas que nunca chegam a conhecer-se a si próprias. Vivem em linha recta. Fazem o que se lhes pede, o que "devem" fazer... e um dia, chegarão ao fim, sem terem percebido o porquê da sua passagem.
São os caminhantes, os viajantes, os homens da pradaria, os que se questionam, os que (se) procuram... que recebem o meu apoio e o meu aplauso. Mas o conhecimento de nós próprios só me parece possível em profunda solidão porque, regra geral, tudo quanto sabemos de nós é a opinião dos outros. Ninguém pode penetrar no nosso interior mais profundo. Nem os amantes entram no âmago da nossa existência. Aí, é onde estamos inevitavelmente sós. E a prova disso, são as rupturas amorosas após 2, 5, 10 ou 20 anos, quando se constata termos passado décadas com um estranho ao nosso lado no sofá.
A vida flui, como um rio, vai sempre mudando os seus estados de alma. Não importa a consistência... porque só a mentira é consistente, A verdade, essa, está sempre a mudar. Deus, ou lá o que/quem seja, devia lançar novamente os dados e começar de novo. É nos recomeços que reside a verdadeira energia criativa da humanidade.

2.07.2013

JÁ NINGUÉM SE APAIXONA, PÁ?

“Quero fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.
Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em “diálogo”. O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam “praticamente” apaixonadas.
Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do “tá tudo bem, tudo bem”, tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?
O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso “dá lá um jeitinho sentimental”. Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto.
O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A “vidinha” é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não dá para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha – é o nosso amor, o amor que se lhe tem.
Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir.
A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também.”
Miguel Esteves Cardoso

2.03.2013

SOMBRAS

Se projeto a minha própria sombra no meu caminho, é porque há dentro de mim uma lâmpada que ainda não foi acesa.
Rabinranath Tagore

NA MANHÃ SEGUINTE

Na manhã seguinte, após uma noite de sonhos que me desassossegaram, soube que a velha Júlia durou apenas mais umas horas. Na noite da sua morte choveu. Choveu muito.  Choveu torrencialmente. O meu pai telefonou e disse  apenas estas palavras:
- Ela deitou-se ontem à noite para morrer.

Carmo Miranda Machado, O Homem das Violetas Roxas

INFERNO

O INFERNO MESMO, É O DO AMOR.
CLARICE LISPECTOR