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7.31.2012

EXORCISMO

O exorcismo pelas palavras é o meu escudo, o  meu véu, a minha morada e a minha paixão.

Tahar Ben Jelloun, O Escrivão Público, p.130

O RISCO MENOR

Quando o amor se torna forte, a loucura é um risco menor.

POR VEZES E OUTRAS VEZES

Por vezes, tudo se passa em longos silêncios. Por vezes, calo-me porque me sei vinda de fora, numa estrada íngreme que me leva à beira da falésia de onde, em vez de queda mortal, sou atirada pelo vento em direção ao infinito. Outras vezes, não tenho disposição para brincar aos trapezistas...
Sou assim...

5771

São os quilómetros que me separam de ti...

QUANDO

Quando deixei de fazer concessões ao que é acessório (coisas, tarefas e pessoas) e me passei a concentrar apenas no essencial, a vida tornou-se mais fácil...
Quando aprendi que o mais importante não é ser coerente com os outros, mas ser coerente comigo própria...
Quando percebi que a atitude pode prevalecer sobre as circunstâncias, sejam elas quais forem... 
Quando interiorizei que viver é estar sempre numa posição incompleta, é estar sempre no meio do caminho...
Quando comecei a retirar da vida o melhor de tudo, de todos, de cada um, de mim...
Quando deixei de iniciar empreendimentos impossíveis como modo equilibrado de conduta...

A VIDA TORNOU-SE MAIS FÁCIL!


7.27.2012

HOW TO BUILD TRUST

PRAGA, A MÍSTICA

Praga é uma cidade marcada por lendas medievais ou pela crendice popular, tanto faz. A verdade é que ao anoitecer, a cidade ganha um misticismo difícil de descrever, próprio das cidades com alma. Os símbolos esotéricos estão por todo o lado: o cálice de ouro na Rua do Castelo e a serpente, também de ouro, na rua Karlova são apenas alguns exemplos. E quando o relógio astrológico na Praça da Cidade Velha - STAROMETSKÉ NAMESTI - marca as doze badaladas a marcar a meia noite, é a figura da velha morte que ali aparece de foice na mão, a avisar-nos de que um dia virá para nos levar... Do Castelo de Praga emanam lendas várias: a da princesa Libuse e do seu enviado especial, o cavaleiro sem cabeça - de VYSEHRAD -, um dos mais antigos fantasmas de Praga, entre tantos que habitam a cidade...
Praga é mística e vibra de paganismo, misticismo e astrologia, todos ligados à história desta cidade. Já Carlos IV, o Rei mais famoso, era iniciado no esoterismo e mandou construir o NOVÉ MESTO (cidade nova) segundo as cartas celestes. Para não falar do excêntrico Rodolfo II ao ordenar que os seus alquimistas, encarregues de lhe descobrir a Pedra Filosofal, fossem instalados em pequenas e coloridas casas na viela de ouro do castelo - ZLATÁ ULICKA. Deambular por Praga à noite põe-nos em contacto com todos estes seres do além que nos perseguem mas sobretudo confronta-nos com os nossos próprios fantasmas, que todos temos escondidos dentro de nós.

Visitei Praga pouco tempo depois da queda do Muro de Berlim, quando a cidade se abria à Europa primeiro, ao mundo depois. Desde então, o Leste ficou mais próximo e a sua riqueza histórica e cultural é indiscutível. Praga é uma cidade que se deixa visitar a pé, como eu gosto. Uma cidade do exterior  que nos dá verdadeiras lições de gótico, barroco, românico e arte nova, tudo à frente dos nossos olhos, pelas ruas... Lembro-me de, ao fim da tarde atravessar a ponte D. Carlos  com as suas estátuas de mármore e pensar que Praga, como Budapeste, são cidades para serem visitadas a dois. E não como eu fiz: orgulhosamente só!

É MAIS FÁCIL DESEJAR

É mais fácil desejar do que querer. Desejar é mais superficial e imediato. Querer é mais profundo e distante. O primeiro está no curto-prazo, com vistas curtas. O segundo está no longo-prazo, com vistas largas, extensas, nos confins do futuro...

DO NOT TOUCH ME

Lancei-me, inabalábel, de unhas e dentes, a esta aventura que é amar-te... sem saber se sobreviverei!

7.26.2012

FÉRIAS DE MIM



Sim, ausentei-me por uns tempos. Ausentei-me de mim, que isto de andarmos sempre connosco atrás também precisa de algum descanso. Voltarei mais completa. E mais rica. Porque se regressa sempre mais rica, venha-se de onde se vier. Vi gente e lugares. Vim em busca do sol. A dolência apoderou-se de mim. Usufrui do prazer de ser apenas. Nada mais do que ser simplesmente.  E esqueci-me que existiam horas para chegar. E cidades. E Centros Comerciais. E pessoas a correr. E apercebi-me de que tinha saudades de ti.

OUT OF THE BOX

Há as pessoas que caminham pela vida em linha reta e há as outras.... aquelas que ao longo do percurso se desviam do caminho mais percorrido, entrando, por vezes contra vontade, em bifurcações, reentrâncias, cantos e recantos, onde são obrigadas a confrontarem-se com os lados mais profundos e, por vezes, obscuros de si próprias.
As primeiras nascem, crescem, trabalham, casam, têm filhos, reformam-se e morrem. As outras vão aprendendo a dançar à beira do abismo, a manterem-se estáveis na corda bamba. Espreitam o precipício e, muitas vezes, atiram-se... São estas asn que eu mais admiro, os caminhantes da pradaria, que perceberam desde cedo a linha ténue e quebradiça que separa em muitos de nós, a sanidade da loucura.
São elas, com um pé no Inferno e outro no Paraíso, os verdadeiros heróis da minha banda desenhada.


O HUMOR

A minha mãe perdeu tudo: o andar, a memória, a casa, o juízo...
Mas, nos fugidios momentos de lucidez, que a visitam quando eu menos espero, mantem intacto o seu humor... cortante, inteligente... como convem!

O MILAGRE DE FÁTIMA

Ao passar a ponte Vasco da Gama, os meus olhos foram atraídos por um enorme outdoor que anuncia, sem qualquer recato, a última novidade em entretenimento religioso: O MILAGRE DE FÁTIMA EM ESPETÁCULO INTERATIVO!
Não sei exatamente de que se trata nem estou particularmente interessada mas imaginei de imediato  um recinto devidamente abrilhantado por neóns multicolores, tipo parque de diversões, com  várias bancas a vender fátinhas da china e falsos rosários, povoado por famílias com muitos filhos, eles a comer algodão enquanto os pais rezam o terço... O Paraíso, portanto...

COMO IDENTIFICAR UM "WOMANISER"


Amigas, se derem de caras com um "womaniser" (mulherengo, em bom português) e tiverem o azar de gostar dele, lembrem-se disto: em primeiro lugar, nenhuma mulher com autoestima no seu devido lugar aguenta um mulherengo. Depois, se quiserem construir uma relação a sério, não há  pachorra para ser confundida e/ou comparada com as mil mulheres que ele teve antes. Por outro lado, as hipóteses deste homem se comprometer seriamente são ínfimas.
Características desta espécie? Basicamente, o mulherengo, por essência: (i) mantem as mulheres em stand by (e talvez por isso, quem sabe, não vos deixem ter acesso às suas amigas no facebook); (ii) tem a reputação de mulherengo que os próprios amigos lhe deram; (iii) não tem maturidade emocional e (iv) last but not the least,  já teve tantas mulheres que nunca vos dará o valor que vocês merecem!
Pensem nisso que eu vou fazer o mesmo!

7.25.2012

O GASTROSSEXUAL

Ligou-me uma amiga minha excitadíssima com o facto de ter ido ontem jantar com um "date" que se ofereceu para cozinhar. Receosa, tentou a custo que o jantar fosse num restaurante mas não, o rapaz convenceu-a de que cozinhar para ela seria o primeiro de muitos prazeres que teriam juntos e ela concordou... Afinal, não é todas as noites que um tipo giraço e bem posto se oferece para cozinhar. Foi!
Jantou foie gras com qualquer coisa que não me lembro agora e bebeu um vinho cujo nome nenhuma de nós reconhecia. E de sobremesa teve direiro a um arroz doce especial com recheio de mirtilos e licor de canela (que ele mesmo fez).
Ah e nota a registar: este sujeito só se abastece em sítios especiais e vai à praça... sim, vai à praça escolher os vegetais.
Ela voltou conquistada. Mais com a comida do que com o rapaz, digo eu. Culto e inteligente, ele está convencido de que a vai conquistar pelo estômago. Eu tenho dúvidas. Porque a minha amiga não é do tipo de mulher que queira relacionar-se com um gastrossexual mais a sua Bimby!

Conselho: se tem um gastrossexual a querer cozinhar para si, agarre-o... que lhe vai saber bem a refeição, Dizem os entendidos que os gastrossexuais compensam na cozinha as artes que lhes faltam noutro sítio da casa...

BORN TO CREATE DRAMA (III)

BORN TO CREATE DRAMA (II)

BORN TO CREATE DRAMA (I)

IN THE DESERT

7.24.2012

NEGO-ME

"Nego-me a viver num mundo comum como uma mulher comum. A estabelecer relações comuns. Necessito do êxtase. Não me adaptarei ao mundo. Adapto-me a mim mesma."

Anaïs Nin

ENTREGUE AS BOTAS


Aquela máxima tão banalizada: NEVER GIVE UP! é, para mim, uma perfeita idiotice. O elogio da persistência pode ser devastador. Por vezes, a decisão mais importante das nossas vidas é aquela que tomamos quando, pura e simplesmente, deixamos ir, entregamos as botas, saímos de cena e mandamos tudo ao ar.

MAUS NA CAMA

Sim, está provado que os portugueses são maus na cama. Pelo menos a dormir. 47% dos portugueses dormem mal. Não estou sozinha.
Pela parte que me toca, já passei por tudo: cair redonda na cama e dormir até ao dia seguinte, levar horas até adormecer, dormir de imediato até meio da noite e não pregar mais olho e todas as outras variantes possíveis do mesmo problema. Também já tomei comprimidos, bebi leite, chá de ervas X, Y e Z, banho quente, etc e tal. Às vezes, nada resulta e ponto final.
Devia ser fácil. Caíamos ali e pumba, adormecíamos até à manha seguinte. Sem mais! E há pessoas que o conseguem. Conheço algumas. O problema é o ruído que fazem nessa passagem... Mas adiante, que essa é outra questão.
A verdade é que se o sono é fundamental para todos, para as mulheres ele é essencial pois rezam os estudos mais recentes que DORMIR EMAGRECE!

O DIA EM QUE O MEU TEMPO ESTICOU

Há dias, uma pessoa de ar stressado perguntou-me: - Como faz para gerir tão bem os seu tempo?
Ops! Já enganei mais uma, pensei... Mas disse-lhe o que penso sobre o tempo... que é a coisa mais democrática que existe e que contrariamente ao dinheiro, o tempo é igual para todos: 24 horas por dia sem tirar nem pôr.
A verdade é que cada pessoa gere o tempo à sua maneira e parece que este não chega para tudo. Apesar das dificuldades, julgo conseguir gerir o meu tempo. E expliquei à dita pessoa que a primeira coisa a aprender é a palavra NÃO; a segunda, é aprender a fazer DELETE sem medos nem complexos e sem olhar para trás.
Uma das coisas que mais atrapalha a gestão do tempo é a dificuldade em selecionar, em peneirar, em excluir... Quando estamos entupidos com excesso seja do que for, a coisa só pode acabar mal. Por isso, eu começo sempre por deitar fora o que não me interessa (há sempre qualquer coisa que, se a olharmos segunda vez, não nos interessa para nada).
Outro skill fundamental da gestão do tempo é saber distinguir oque é urgente do que é importante porque há coisas urgentes que não são importantes... Por isso, expliquei-lhe, passo a passo, as minhas estratégias que ela ouvia esbugalhando os olhos como se eu fosse uma extraterrestre. Sim, escrevo na agenda todas as tarefas que quero realizar e atribuo-lhes um tempo de execução. Sim, há tarefas que ficam por concluir e passo-as para o dia seguinte. Sim, deixo sempre um tempo para os imprevistos que ocorrem sempre sempre graças a Deus...  Sim, apesar se definir objetivos, eu também deixo a minha fluir ao sabor do vento, sopre ele de onde soprar... Disse-lhe que o grande caos da minha vida é a minha secretária contra a qual luto diariamente. Não, não gosto de post its, irritam-me desmedidamente, detesto aqueles papelinhos multicolores espalhados por ali.
Sim, fujo dos ladrões de tempo quando preciso de concluir uma tarefa importante. Ladrões de tempo? Sim, verdadeiros ladrões de tempo como o telefone, o facebook, os filmes no you tube, os mails, a tv ou simplesmente os meus gatos a pedirem-me festas...

DON'T BE AFRAID

7.22.2012

OS TIPOS DE AMOR

Andei a reler o Sternberg. Agora veio-se com esta... dos tipos de amor. 
Diz ele que, pegando nos três componentes essenciais de uma relação, a saber, PAIXÃO (P), INTIMIDADE (I) e COMPROMISSO (C), podemos ter diferentes tipos e géneros de amor, caracterizando-se cada um deles pelo quantidade ou ausência das componentes atrás referidas. 
Passo a enumerá-los, então:
PAIXONETA = +P -I -C
AMOR ROMÂNTICO = +P +I -C
AMIZADE = +I -P -C
AMOR COMPANHEIRO = +C +I -P
AMOR VAZIO = +C -P -I
AMOR FÁTUO = +P +I -C
AMOR TOTAL = +P +I +C
NÃO AMOR = -P -I -C

Pronto, agora resta perceber qual o seu tipo de amor... e se não percebeu nada, por favor faça de conta!



7.21.2012

PROGRAMAÇÃO


O que sinto neste instante, é a falta do sabor inédito do teu beijo.
O que tenho? Um novo número de telefone, uma cor de olhos que não sei definir com precisão.
Um corpo que se encaixa no meu e... 
Um ser que me mantém fascinada... TU!
Jogas perigosamente com a irrealidade, sentes atração pelos seus instrumentos de fuga e não pretendes mudar. 
Tens o desplante de não concordar comigo com a autoridade de quem não concorda com ninguém e de me chamares coisas que eu não sou... 
O que é suficiente para eu querer odiar-te e, ao mesmo tempo, não conseguir pensar em viver longe de ti...Logo eu que já tinha desistido de me programar para qualquer tipo de eternidade. 

7.20.2012

ENGENHARIA PESSOAL

Após um ano em que quase tudo o que não era suposto ter acontecido aconteceu, entrei em fase de balanço... e de rescaldo. De facto, o meu ano começa em setembro, nunca em janeiro... e o fim de julho marca o quase início de nova viagem.
Assim, após uma espécie de engenharia pessoal continuada, por me saber imperfeita, por me saber periclitante, por me saber carente, procuro alguma paz...

7.12.2012

PALHAÇO 1 & PALHAÇO 2

Tenho andado a conter-me. Quando foi do palhaço 1 (Sócrates + licenciatura ao domingo + caso freeport + etc e tal e coiso), perdi a fé nos políticos e, pior, nos portugueses em geral que continuaram impávidos e serenos como se nada fosse. 
Agora surge outro. O palhaço 2 (Relvas). Envergonha o país. Envergonha-nos a todos. E nós, limitamo-nos a sorrir de sarcasmo.
Chega de palhaçada. Já não bastam as licenciaturas de Bolonha que em 3 anos nunca darão  o que as de 5 deram mas valem o mesmo. Já não bastam os doutoramentos express... Agora, percebe quem quer perceber, que este país está cheio de falcatruas culturais (nem falo nas outras) e quantos doutores não haverá por aí ao desbarato com cursos não pós-Bolonha mas pós-Palermo, leia-se, à Relvas...
O mínimo que este senhor devia fazer era demitir-se. Mas o mínimo que nós, portugueses, pelo menos os que fizeram licenciaturas de 4 anos, pós-graduações de 2 e mestrados de 3, devemos fazer é demiti-lo. 
E JÁ!

PONTO G

Eu gosto de palavras e de ideias. O meu ponto G está nos ouvidos. Acho que não vale a pena tentar encontrá-lo noutro lugar... 

MULHER

Gosto de ser mulher. Gosto especialmente de tudo o que ser mulher implica. Gosto de me emocionar com pequenos nadas e gosto, gosto muito, de não resistir a tentações, essas tentações em forma de vestidos e carteiras e sapatos e relógios e pulseiras e anéis, desses que ficam mesmo quando os dedos se vão... 

LIÇÃO DE VIDA


São miúdos. Têm 13 e 14 anos. Ele, mais calado. Sensível. Com apenas 5 ou 6 anos sentou-se na minha varanda, olhou-me e disse-me: - Está-se muito bem aqui, madrinha. Percebi, ali, que se tratava de um ser especial. Uma sensibilidade acima da média. Alguém que veio ao mundo para o saborear. Ela, cerca de catorze meses mais nova. Nariz empinado. Sensível. Meiga. Comunicativa. Expressiva. Fala pelos cotovelos. Os dois, formam um par imbatível. Não imagino um sem o outro, a crescerem lado a lado. Cúmplices. Confessam um ao outro as suas descobertas.
São meus afilhados. Porque a mãe insistiu. E para tal tive de andar às turras com o tal do padre Nuno.
Hoje encontrámo-nos. Ementa: gelado Hagen Dazz. Conversámos sobre escola, férias, música e namorados. Mais tarde, juntou-se a nós o irmão mais velho. Um jovem responsável e muito meigo por quem nutro um carinho especial.
Vi-os espontaneamente dividirem com ele parte do que eu lhes tinha dado para comprarem um presente de aniversário... Fiquei sem palavras!
Que lição de vida!

JÁ ME CHEGAVA

Já me chegava de exames, testes, termos, pautas, atas, planos, relatórios, reuniões, avaliações e revaliações por este ano...

A CABANA NA LUA

Os homens não sabem. Ou melhor, alguns homens não sabem. Ou melhor ainda, a maioria dos homens não sabe... que existe uma íntima relação entre a psique das mulheres e o seu funcionamento ovárico. Não sabem que o nosso ciclo mentrual começa com um estado de espírito de primavera, de desinibição e optimismo e até, mais ou menos à fase de ovulação, estamos receptivas, mais abertas aos outros. Depois, entramos no outono do nosso ciclo em que ficamos introspetivas e mais tendentes à reflexão. 
E muitas de nós, quase todas, procuramos voltar a casa, à nossa cabana na Lua.

BLOOD TYPE

Não vale a pena ir por outro caminho que não este. Mesmo quando tudo parece desmoronar à minha volta, mantenho-me firme! 
Porque, haja o que houver, venha o que vier, haverá sempre serra de Sintra, barcos no Tejo e noites de luar! 
BE POSITIVE!

O CARDUME


Há algum tempo atrás, quando ainda valia a pena, recordo-me de ter acordado, olhado em redor e ter percebido que a casa onde vivia precisava de uma volta. Assim, saltei da cama, tirei os lençóis, coloquei lavados. Sacudi tapetes. Aspirei. Lavei o chão do quarto. Limpei WCs. Esfreguei a banheira. Pus roupa na máquina. Sequei a roupa que lá estava. Aspirei o hall. Sacudi mais tapetes. Limpei a varanda. Tratei dos gatos. Arrumei armários da despensa. Reciclei lixos. Recolhi roupa. Levei-a para a engomadoria. Trouxe roupa da engomadoria. Fui ao super. Fiz as compras. Carreguei as compras. Arrumei as compras. Limpei gelo do congelador. Fiz jantar. Lavei a loiça que não cabia na máquina. Pus a máquina a lavar. Arrumei a loiça. Perfumei a casa. Pus a mesa. Fiz um chá de canela e sentei-me a descansar um pouco no sofá a olhar para a minha peça de arte favorita: o cardume. Foi então que ele chegou e disse:


 - Sortuda, TODO O DIA EM CASA SEM IR TRABALHAR! O que é o jantar?
Nesse dia percebi que alguém estava ali a mais.

7.09.2012

FELICIDADE

Há dias em que a ideia de felicidade se me atravessa de forma mais intensa, especialmente quando vejo as pessoas que mais amo apertadas numa teia de insatisfação e desmotivação provocada pela ideia de que a felicidade vem de fora, do exterior...
Há muito que me deixei disso... Claro que há condições fundamentais à felicidade: a existência de três coisas, basicamente, dizem os especialistas. Um projeto profissional satisfatório, um projeto afetivo (ninguém gosta de morrer só) e um projeto cultural. Agora, basta fazermos as contas desta equação e vermos onde é que a coisa nos falha ou falta...
Parece simples...

7.07.2012

PRIVATIZAÇÕES

Privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e a lei, privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos. E finalmente, para florão e remate de tanto privatizar, privatizem-se os Estados, e entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional. Aí se encontra a salvação do mundo... e, já agora, privatize-se a puta que os pariu a todos.

José Saramago, Cadernos de Lanzarote, Diário III, p. 148

CANELA

Cá em casa vai com tudo. Começou por ir com os gelados e os morangos e a gelatina e os pudins e o arroz doce e os pastéis de nata e todo o tipo de fruta mas agora já vai com arroz árabe e serve-me de tempero à carne e ao peixe sem esquecer as misturas de chás que se pode fazer com ela. Pois que sim! Entrou definitivamente na minha ementa e já não passo sem ela. As mentes mais tortuosas (e eu conheço pelo menos uma), estará já a pensar nos efeitos colaterais deste exagero de canela mas repondo aqui a razão dos factos, importa lembrar que a canela, dizem os especialistas, exerce um poder redutor do valor do colesterol e da açucar no sangue. Já para não esquecer que esta fantástica especiaria, no início do séc. XVI era trazida por comerciantes portugueses diretamente do Ceilão (atual Sri Lanka), chegando um quilo a valer dez gramas de ouro. Sim, percebeu bem... dez gramas de ouro... Segundo contava um navegador holandês:"as margens desta ilha estão repletas desta planta e é a melhor em todo o oriente; quando uma pessoa está no litoral, pode-se sentir o aroma a oito léguas de distância".
Pois eu cheiro-a a muito menos léguas... mas quero cheirá-la brevemente no seu habitat natural.

7.06.2012

NUS E PARA SEMPRE

Com o passar do tempo, quase todos os casais que eu conheço se transformam em colegas de trabalho, vivendo uma relação de cordialidade cujo grande objetivo é o bom funcionamento da empresa que é, evidentemente, o seu casamento. Trabalham em equipa, muitas vezes, o que é de louvar e, embora haja habitualmente um gestor de projetos, os objetivos a alcançar resumem-se basicamente a manter os filhos alimentados e as contas pagas... Para estas pessoas, partilhar a conta da água tornou-se mais importante do que partilhar os beijos e, tal como numa empresa, há também que fazer contenção de custos logo, as pequenas grandes coisas que mantinham a chama acesa dão lugar à necessidade de cumprir uma ordem de trabalhos que se repete à exaustão.
Fico a pensar que, se as emoções são o colorido da alma, nestes casos as almas escurecem pouco a pouco e os casais limitam-se a realizar rotineiros actos higiénicos de fim de semana. 
Será que nunca se ama como nas histórias? Nus e para sempre?

DEDICAÇÃO


Desde aquele dia, ela decidiu escrever-lhe todos os dias e dedicar-se a ele como os marinheiros antigos se dedicavam ao mar...

NORTE E SUL

Viver é fácil porque meço a partir de ti o Norte e o Sul. Basta que existas para que os meridianos se arrumem e os oceanos não transbordem. 

Teolinda Gersão

7.02.2012

CONFISSÃO



Não queria precisar disto mas já preciso como de ar, de sol, de mar...  Sei que é um voo demasiado arriscado que fazemos... um voo rasante e perigoso. Mas não me quero desfazer de ti. Já não consigo... Guarda para ti esta confissão e faz dela o que quiseres. Não me quero perder de ti agora que te encontrei.
E fico assim. De joelhos encostados ao queixo, mãos entrelaçadas sobre os joelhos, contemplandode olhos fechados, a tua imagem ou, na falta dela, a minha imagem de ti...
Nem sei se queres voar, ou voar comigo ou se até terás medo de voar... Mas como é que se voa, com uma asa presa na mão de alguém?
Diz-me, sussurra-me ou grita-me, que é possível voar com uma mão presa na tua mesmo que nos estampemos os dois.


ÁGUA E FOGO

Perante a possibilidade de voltar a Budapeste, quinze anos depois de lá ter passado dois fugazes dias num périplo pelos países mais a leste, quando viajava como guia e escort de grupos de viagens organizadas, dei por mim a reler o meu caderno de viagem...
Das cidades que então visitei, Budapeste, Praga, Viena, Estrasburgo e Bratislava... lembro-me de, num momento único, ter pensado em como gostaria de voltar a Budapeste acompanhada. Essa cidade que me encantou pelo seu misto de simplicidade e sofisticação  e que, já na altura, me  pareceu um filão ainda por explorar....
Budapeste, centro europeia, tem para mim uma magia inexplicável e os seus habitantes orgulham-me por que não se perdem em lamentos apesar da cidade ter sido destruída 31 vezes e erguida outras tantas... Não me lembro já de muito pois estava de passagem e em trabalho... mas as pontes sobre o Danúbio ao final do dia ficaram retidas na minha memória como também ficou aquele café tomado sozinha no café Gerbeaud... Depois lembro-me dos planos que ficaram por concretizar: deambular por Buda (água) e depois por Peste (fogo ardente), passear no Danúbio ao fim da tarde, ir ao Hamman, atravessar as pontes a pé, subir ao monte Gellert, provar o vinho húngaro, ouvir música zíngara nas ruelas do bairro do castelo e sobretudo, ver a cidade sem pressa...
Constato que se mantém intacta em mim o desejo de voltar. Mas uma coisa está radicalmente diferente: desta vez quero ver Budapeste através do nosso olhar...