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6.30.2012

DO YOU FOLLOW?


JUST DO IT

You must do the thing you think you cannot do.
Eleanor Roosevelt

RUGAS

Gosto de me estender ao sol como os meus gatos e sentir que a calor no meu rosto cria rugas mas me apazigua a alma.

TRÊS TRISTES TRAGOS

"Deixei o hospital naquele dia com uma profunda sensação de vazio. Era como se o final de tarde em Lisboa se assemelhasse a um enorme e frequentado ghat indiano nas margens do Ganges, onde todas as pessoas tinham decidido ir morrer. Eu fui para casa embalada pelo som do trânsito; fiz um gin tónico e bebi-o em três tragos: três tristes tragos."

in Eu Mulher de Mim, Edilções Colibri, pág. 92

SEROTONINA

"(...) A Bárbara optara definitivamente pelos comprimidos. Havia-os de todas as cores e para todos os fins. Quando falei com a sua psiquiatra e lhe demonstrei a minha preocupação pelo facto do brilho dos seus olhos ter  desaparecido, ela fitou-me com ar indiferente e enumerou uma sequência de substâncias químicas que faltavam à minha amiga.
Fui para casa com serotoninas, oxitocinas e dopaminas a faiscarem aos meus ouvidos e um único pensamento: por que razão viver tinha de ser um processo tão difícil para alguns de nós."


in Eu, Mulher de Mim, Edições Colibri, p. 44


Sei, sinto, vejo... 
Estás de novo à beira do abismo e, mais uma vez, não te deixarei cair. E se caíres, estarei lá para te amparar na queda!

BIFURCAÇÃO


Dois caminhos bifurcavam num bosque e eu...
Segui pelo menos usado, o que fez toda a diferença.

Robert Frost

EM CÍRCULOS

"(...) Enquanto esperávamos, a Bárbara não resistiu e caiu no abismo. Foi quando me vi obrigada a lidar de novo com as idiossincrasias da mente. Mais uma vez, encontrava-me perto de alguém que perdera o caminho de regresso. Ela ainda tentara caminhar rumo ao equilíbrio, Contudo, há muito que transmitia uma sensação de desmoronamento e, subitamente, perdeu o seu lugar no mundo. Creio que todos nós, mais cedo ou mais tarde, acabamos por questionar que lugar será esse. Quanto a ela, encerrou-se numa casa de repouso, primeiro, foi encerrada num hospital psiquiátrico, depois. Quando a visitei na clínica, reparei na coluna de livros empulhados equilibradamente na mesa de cabeceira... Meses mais tarde visitei-a no hospital. (...) Olhei para as pessoas  que lá se encontravam e todas me pareceram girar incessantemente em círculos, encurraladas dentro de si próprias. Perturbei-me. Com as portas trancadas. Os corredores brancos e gelados. A dureza das enfermeiras. Como se a locura não andasse aí espalhada pelo mundo e estivesse apenas confinada àquelas paredes!"

in Eu, Mulher de Mim, Edições Colibri



LOTARIA

Eram oito da manhã quando tudo começou. Reunião do 11º ano. Bem conduzida. Correu sem sobressaltos. Dez da manhã. Reunião de 8º ano. Consensual. Chumbou quem tinha de chumbar e passou quem tinha de passar. Uma da tarde: reunião do 10º. Conflituosa. Difícil. Dura. Três da tarde: outra reunião do 8º ano. Discrepâncias. Grandes. 
Percebi, afinal que alunos com 4 e 5 negativas transitam e  alunos com 3 negas reprovam. Percebi também o que já vinha a pressentir. A passagem de um aluno, se em situação periclitante, depende muito do conselho de turma que lhe coube em sorte. Pereitamente aleatório. Passa tudo pelo perfil do d.t., da sua postura, perfil e capacidade de liderança. Mas também do sentido de equidade dos professores presentes e da sua forma de estar perante o ensino.
A quem compete acabar com este regabofe? A uniformização de critérios, sendi difícil, é urgente e desejada. Cada caso é um caso, sabemo-lo... E as variáveis em análise são mais que muitas... os resultados a Português e a Matemática, repetências, absentismo, interesse, postura... 
Mas a grande e terrível verdade é que, nestes desgastantes dias de avaliação, saio da escola com a sensação de que não sabemos muito bem, nenhum de nós, o que andamos ali a fazer...

6.28.2012

MORTE SÚBITA

Cada um escolhe a forma como se embrutece. Eu cá tenho a minha que consiste em criar teorias para os factos que vou observando...
Durante a emissão do jogo Portugal-Espanha avancei com uma teoria que me parece muito mais útil à saúde pública do que aquilo a que a UEFA nos obriga a assistir uma vez que aquela coisa dos penalties que acontece após o prolongamento provoca, a meu ver, deficiências cardíacas graves nos seres menos fortalecidos no tal músculo. Tenho pois dito.
Ora, em plena sucessão de penalties, ocorreu-me informar a malta que me rodeava que, se eu mandasse nestas coisas dos futebóis, esta parte do jogo não existiria. Para mim, os jogadores deveriam continuar a jogar simplesmente até irem, um a um, caindo desfalecidos no relvado. 
Isso sim, seria morte súbita... E pronto...

DA ANORMALIDADE DO SISTEMAS OU DA INEFICÁCIA DOS PROFESSORES?

Acabei a primeira reunião de avaliação. Estou de tal forma enjoada que admito vomitar a qualquer momento...
Perante a decisão de passar de ano os alunos com quatro negativas, opus-me. Provocando de imediato uma reação de defesa  na responsável da reunião... que me olhou como quem pensa: - Vem aí chatice e o que eu quero mesmo é desaparecer daqui e despachar esta treta com o mínimo de atrito possível. Ok! Estavamos, até ali, exatamente no mesmo barco...
Mas insisti! Opus-me e exigi que houvesse votação. Primeiro, porque os ditos alunos revelaram comportamentos antissociais, total falta de educação e respeito pelos mais básicos valores e atitudes, falta de interesse e uma postura mais de animal do que de pessoa...
Não, não se espantem. Várias vezes, ao longo este ano, pensei se estaria numa sala de aula ou numa estrebaria... desabafos de realidades que só os mais corajosos admitem existir dentro de uma sala de aula em algumas escolas públicas do nosso país. 
A reunião de hoje mostrou-me o que eu já pressentia: em situações limite, perante a necessidade de dar a cara, de assumir decisões, os professores são cobardes. Houve mesmo uma professora mais afoita que disse com bravura: "É melhor não mexer, se não estamos tramados!" :)
A verdade é esta: O aproveitamento e comportamento da turma em questão foram considerados insatisfatórios. Marcaram-se visitas de estudo a que nenhum aluno compareceu e, facto, num total de 24 alunos, apenas quatro transitaram por mérito próprio. Os outros três transitaram porque as suas notas foram votadas.
Manifestei por isso a minha oposição perante o facto de estes três alunos verem as suas notas votadas. Não fazia sentido.... Ao que me foi dito que se os não passássemos com quatro negativas, eles meteriam recurso, o problema iria a Conselho Pedagógico e eles passariam... Nós teríamos entretanto de realizar mais reuniões... o que seria uma enormíssima chatice. Tem razão...Talvez tenha razão... Não se aguentam mais reuniões... Mas muito menos se aguenta presentear alunos de péssimo aproveitamento e comportamento animalesco com uma transição dada de bandeja, sob pena de estarmos a aumentar ainda mais o número de anormais à solta pelas nossas escolas e pelo nosso país.
Mas a culpa não é do sistema... A culpa, não tenham dúvidas, é dos professores.. A decisão e posição tomadas nesta reunião refletem o estado do sistema educativo. E nas escolas, reflexo de um país moribundo, consatatei hoje mais uma vez: abundam professores cansados e desistentes (de pensar?)... que passam os alunos à toa só para poderem evitar repetir procedimentos burocráticos a que todos queremos fugir... É o que temos! Vive-se com isto ou fica-se, como eu hoje, logo de manhã, com vontade de vomitar.
Mas quando é que eu deixo de pensar e me junto ao grupo dos desistentes?

6.25.2012

DESCOBERTAS


Descobri hoje que tenho amigos a ler o meu blog, para além de Portugal, nos Estados Unidos, Suiça, Rússia, Angola, Brasil, Alemanha e Moçambique. E descobri hoje, no meio de papéis perdidos, a lista dos sítios onde quero ir... Perú, Argentina, Vietname, Camboja, Laos, Malásia, Singapura, Tailândia, Myanmar, Moçambique, Hong Kong, Tóquio, S. Francisco, Grand Canyon, Granada e voltar a Budapeste e à India...



6.24.2012

NAÚFRAGOS

Já não acredito na guerra entre homens e mulheres. 
Somos todos naúfragos do mesmo barco em alto mar e sem terra à vista...

NÃO ESTIVE CÁ

No verão passado não estive cá, endoideci.

Pedro Paixão

COMO UMA LEOA

Sentia-se como uma leoa de pêlo dourado, cheia de cicatrizes de antigas batalhas, exigindo-o a seu lado.

SEM PIRUETAS


Uma coisa parece certa. Eram quase dez horas da noite e nada lhe fazia sentido. Nem um livro já conseguia apaziguar tanta revolta. Chegou de repente. Toda de uma só vez. A revolta... e a raiva, a ira, a dúvida...
Porquê? Porque tinha de ser assim?
Deixara-se ficar ali. Parada. Quieta. Deixara-se cair, simplesmente, sem estrondo. Sem piruetas. Sem alvoroços. Discreta... Sem ruídos de fundo... Quase um silêncio.
Chegou o dia e, tanto ela como o rio, os pássaros, as árvores e a ponte, valeram-se das mais variadas estratégias para suportar aquela dor...
Há dias e noites assim... dias e noites sem atrito, sem confronto, sem diálogo... noites de desistência... em que apetece chorar... apetece vomitar até...

NÃO FOI ELA

Não, não foi ela que começou a escrever era ainda muito pequenina...
Foram a suas mãos...

DE MOLHO



Há quem diga que as cartas de amor se escrevem à noite, e se deixam de molho num bom caudal de lágrimas até à manhã seguinte. Depois, releem-se e rasgam-se...
Nada disso, digo eu que não me lembro de ter escrito uma única carta de amor desde que sou gente. Dá-me para escrever de tudo menos disso... Mas as melhores cartas de amor devem ser as que são escritas a meio da tarde, sol no rosto e vento nas ideias, a varrer a prosa dos arremessos menos lógicos  que o amor pode proporcionar, esse mesmo que segundo Dante, move o sol e as outras estrelas.
E foi assim que dei por mim a escrever-te hoje, em pedaços de papel arrancados a folhas que queriam voar para longe. Tu, que contrariamente ao expectável, me dominas e controlas. Logo a mim, que não me habituei nunca a ser controlada...
Nunca nos cruzámos antes mas eu já sabia o teu nome, que sempre tive jeito para dar largas à imaginação a partir do nada. Quando te vi, quando nos vimos, medi-te de alto a baixo e soube, ali mesmo, que serias o maior dos meus casos de amor. O maior dos maiores. E gosto, contragosto, de ser subjugada por ti, até o suor me escorrer pelo corpo. E a necessidade que tenho de ti é urgente... mas avanço devagar, forçada a este caminhar lento a que a vida me força, essa vida que julga que sabe muito mais do que nós. Gostava que encontrasses em mim o que julgaste irremediavelmente perdido, seja isso o que for. Estás continuamente comigo, num recanto da minha mente incansável. Sou demasiado vertiginosa para ti... sei que te posso assustar. Mas conheço o teu cheiro de cor e sei localizar todas as marcas do teu corpo... Corro a toda a velocidade para a beira do precipício que tu podes ser na minha vida. Mas continuarei a correr porque, simplesmente, não me apetece parar. É possível amar-se alguém que mal se conhece? Não sei... És como um lobo vestido de lobo e eu caio nas tuas ciladas... nas ciladas que me fazes com as mãos e com o teu olhar... Gravei na memória tudo o que te diz respeito. Já quase não recordo os meus pensamentos, aqueles de antes, antes de estarem cheios de ti até transbordarem. O pior dos desastres da minha vida aparentemente arrumada seria apaixonar-me assim. E aconteceu! 
Quero agora de volta tudo o que extorquiste de mim: a minha serenidade, o meu equilíbrio, a minha paz... 



6.22.2012

ESTAMOS TODOS A JOGAR O MESMO JOGO

Assisti há dias a uma palestra sobre o crescimento pessoal e a expansão da consciência... Entrei receosa mas sai rendida às ideias apresentadas. Talvez pela qualidade dos oradores, um mestre de Reiki e o outro instrutor de yoga ou talvez pelas energias que circulavam na sala ou as duas coisas não sei bem... Basicamente, a palestra pretendeu passar ensinamentos dos Kahunas, curadores xamânicos e para tal, começou pela Física Quântica e sobre os paralelos que se revelam idênticos em culturas milenares... Quem somos nós, afinal? Ouviram-se relatos de 14 cientistas sobre o que é a energia, sobre o estudo do movimento do átomo, sobre as toerias de Heisenberg... O mundo é mesmo o campo de todas as possibilidades e o funcionamento dos átomos está além do tempo...
Assim, seremos responsáveis pela nossa própria realidade? E as coincidências serão meros cruzamentos de energia? 
Chegou-se então ao ponto de refletir sobre a forma como lidamos com os obstáculos. Interessei-me... Abolir os pensamentos destrutivos, todos eles... - disseram-me. E usar as 4 leis da energia dos índios Kahunas:
1ª- IKE - criamos a nossa realidade através de crenças, desejos, atitudes e pensamentos persistentes;
2ª - MAKIA - recebemos aquilo em que nos concentramos; os pensamentos ou sentimentos que nutrimos consicente ou inconcientemente moldam a nossa realidade; conselho: não pensar no que ficou para trás, seja em forma de trabalho, pessoa, oportunidade... Basicamente esquecer a última coca-cola gelada do deserto...
3ª - KALA - Somos ilimitados; tudo é formado de átomos que podem ser moldados pelo nosso pensamento.
4ª - MANAWA - o nosso momento de poder é o AGORA e podemos, se quisermos, mudar crenças, pensamentos e padrões de comportamento que nos aprisionam e impedem o nosso crescimento.

Sai dali a pensar que, vestida com outras roupagens, aquilo que me foi apresentado foi a teoria de John Grinder que há tanto tempo usamos em coaching e em formação sobre Programação Neurolinguística. Perguntas básicas: O que queremos da vida? Qual o nosso projeto? O que fazer para o alcançar?
Em suma, temos o poder dentro de nós. Só precisamos de o resgatar! Como eu costumo dizer aos meus formandos, todos temos experiências de "pico" e experiências de "flow" mas estamos, TODOS, a jogar o mesmo jogo.: chama-se VIDA...  

6.21.2012

SOU FELIZ SÓ POR PREGUIÇA

No final de um curso, disseram-me: 
-Vê-se mesmo que a formadora é uma mulher feliz!
Engoli em seco... estremeci... voltei a engolir em seco e, recomposta, respondi mais ou menos isto: Acho que sou feliz. Que sempre fui... A felicidade é uma vocação... Todos somos chamados a ser felizes... 
Hoje, ainda penso nesse dia. Sim, sou feliz... Sou feliz só por preguiça... Porque... porque... poderia não ser. Teria, sem me esforçar, algumas - fortes - razões para ser infeliz. Mas recuso-as. Todas. Uma a uma... Luto contra elas dia a dia. 
Encontrei-me... Levei tempo até chegar aqui... Três décadas, no mínimo, à deriva sem saber o caminho... Projeto de vida? Tenho o possível. Talvez ainda não o sonhado... 
Sobretudo, aprendi cedo a saber esperar. Foi o mais difícil de aprender... Apostar naquilo que tarda em chegar. E que não sei se chegará...
Tenho aguardado, com a calma possível, por um projeto afetivo que complemente a minha vida... sem o qual vivo bem mas com o qual sei que viverei melhor.
Entretanto, nesta caminhada a que chamam vida, tenho seguido o princípio de Píndaro e não me tenho dado mal... 
Não resulta querermos ser o que não somos!

LÁ ESTAVA ELE...

Nove da manhã. Matemática. Entraram. Por ordem. Sentaram-se. Sala cheia. Putos. A rondar os quinze anos. Jeans. T-shirts. Ténis Nike. Mochilas. Calculadoras. Canetas...
Contidos. Aguardaram pelo enunciado. Fiz a distribuição. Do exame. Das folhas de rascunho. Conferi as identidades. Assinei as filhas. Ia já sentar-me quando... 
Lá estava ele... estrategicamente colocado, após te sido ajeitado com cuidado em cima da calculadora... Olhei de novo. Pensei ter visto mal. Era. Era mesmo... uma figura de cristo em madeira castanha...
Sentei-me e fiquei a pensar nesta improvável equação...

O QUE FAZER COM A LÍNGUA


A propósito da Declaração de Amor à Língua Portuguesa que por aí anda a circular, pus-me a pensar no assunto, concluindo que sim, o ensino do Português ou da Língua Portuguesa exige ser repensado; sim, o acordo ou desacordo é uma inutilidade mas não vem daí mal maior ao nosso mundo; sim, as aulas podem ser uma grande chatice para o professor que tem de ensinar Padre Antonio Vieira às oito da matina; sim, a literatura portuguesa tem muito mais e melhor do que Os Lusíadas, desculpem lá... A idiotice a que a situação do ensino da nossa língua chegou é tão grande, que hoje nas indicações para exame nacional numa escola portuguesa, lia-se: Os alunos devem utilizar a Língua Portuguesa para responder às questões da Prova de Exame"...
Pois, não fossem eles, atrevidos, escrever em mandarim... 



6.20.2012

FILOSOFIA CÓDIGO 714

Filosofar às nove da matina após uma noite má dormida não indicia boa coisa  mas hoje foi assim  mesmo e eu tinha de me manter acordada em mais uma vigilância...
Tudo começa com Spinoza e a sua correlação entre o homem e a pedra no que à consciência dos seus desejos ou à ignorância das causas que os determina diz respeito. Somos nós que nos mantemos em movimento ou, qual pedra, só descemos colina abaixo empurrados pelo vento? Como a pedra, pensamos ser nós os impulsionadores da nossa própria ação acreditando sermos livres: "Assim, (reza o dito texto) é esta liberdade humana que todos os homens se vangloriam e que consiste somente nisto, que os homens são conscientes dos seus desejos e ignorantes das causas que os determinam."
SERÁ?
Adiante...
Kant surge no grupo seguinte com a MORAL... e o texto, de grande utilidade nacional, deveria servir de cartilha aos políticos e ser a oração matinal na Assembleia da República... "Age de modo que a tua regra de conduta possa ser adotada como lei por todos os seres racionais". Tal como deveria ser a teoria da Justiça de Rawls (John Rawls) leitura obrigatória em todas as escolas e empresas, igrejas e hospitais... Mais do que nunca, parece-me urgente voltar aos princípios de conduta que se vão perdendo pelo caminho...
Seguiu-se Platão. Sobre o mau uso da retórica. Que grande atualidade de temas! "Quem se quer orador não tem necessidade de conhecer o que realmente é justo, mas o que aparente sê-lo à multidão que deve julgar: não o  que na realidade é bom e belo, mas quanto dá dessa aparência, já que daí deriva a persuasão, e não da verdade!" Perigoso! E real! O eterno jogo ser/parecer mesmo à nossa frente, a saltar da vida para a folha de exame... Um exame sobre normas de conduta, valores (ou a falta deles), verdades e menturas, mau uso da palavra, falácias de todo o tipo... Que atualidade! E tudo termina em grande quando se pede aos alunos para testarem a validade do seguinte argumento:
Todos os pedantes são enfadonhos.
Alguns intelectuais não são enfadonhos.
Logo, alguns intelectuais não são pedantes...
Proponho que se troque "pedante" por "político" e "enfadonho" por "corrupto" a ver o que dá...
EU, PROF FARTA DO SISTEMA, ME CONFESSO!

6.19.2012

FAMÍLIA

"Às vezes penso que, possivelmente, não precisamos de pai e mãe. A mim a família só me atrapalhou. Tive que começar tudo pela outra ponta."

António Alçada Baptista, O Tecido do Outono

A HIPNOSE DA EDUCAÇÃO

"À maneira que passaram os anos dei-me conta que toda a educação é uma forma de hipnose, de lavagem ao cérebro, de endoutrinamento donde é difícil sair com os sentidos intactos!"

in António Alçada Baptista, O Tecido do Outono

NÃO SEI VIVER COM ISTO

Não sei viver com isto...quero tudo e não tenho nada. E hoje não tive nada e uma vida não chega para viver tudo o que quero viver contigo. E depois há os dias como o de hoje em que desapareces e eu perco o discernimento. Atrapalhas-me a vida com o teu silêncio. Caso contrário viveria os meus dias como se não tivessem fim. Parece que é de um momento para o outro e de repente que a gente leva um golpe e hoje foi o dia... feito de silêncios perturbantes porque me cheguei a ti e não estavas lá.
E os dias correm e desaparecem... e a este vazio que fica quando o dia chega ao fim, que lhe faço?

EXAME DE MATEMÁTICA B

Só almas mesmo muito elevadas, a roçar o estado Zen é que aguentam... e mesmo essas, tremem perante uma vigilãncia de exame. Não se aguenta! Entras na escola às oito da matina para às oito e meia te darem um envelope selado com as provas... Se te atrasas e chegas ao Secretariado de Exames às oito e trinta e dois ou trinta e cinco, levas com uma falta a encarnado só justificável com um atestado médico... o que signfica que vais perder  a tarde no agradável Centro de Saúde de tua zona a pedinchar o dito atestado à tua médica de família, isto se ela não tiver ido já de férias... Porque se a gaja foi de férias, tás literalmente lixado/a... Caso o dia seja de sorte e a gaja esteja por lá e bem disposta, vai mentir com os dentes todos, pondo no papelinho que tu estiveste doente nesse dia quando o que aconteceu foi que te atrasaste dois ou três minutos embora o exame propriamente dito só comece às nove horas e  tu tenhas chegado às oito e trinta e cinco e os alunos só entrem na sala às oito e quarenta e cinco e o toque de cortar o envelope com a tesoura só apite às nove.
Se não entenderam façam de conta ou eu explico de novo!

Ultrapassada esta primeira fase, estás na sala, os alunos entram, são distribuídos pela ordem de pauta, preenchem o cabeçalho da folha de exame, conferes a sua identidade, cortas o dito envelope, distribuis os enunciados e sentas-te. Na rifa, hoje saiu-me Matemática B, 12º Ano, Código 335, Duração 150 minutos.

150 MINUTOS? Não queres acreditar que são tantos minutos... nunca imaginas o tempo que demoram cento e cinquenta minutos a passar... uma verdadeira epopeia da eternidade. O que significa que até às onze e meia, não existes! A única coisa que podes fazer é respirar! É então que tentas distrair-te a tentar decifrar o enunciado da prova que exame que para uma prof de Português surge em forma de hieróglifo: o comprimento de um arco de circunferência mais a área de figuras planas com volumes e progressões e sucessões e sistemas de restrições e círculos de valores de variáveis e espaços percorridos e taxas de variações de função, trapézios isósceles e os quadriláteros obtidos.

Durante duas horas e meia pedem-te que não tujas nem mujas, como se o mundo acabasse ali. Mas não acaba... Sai dali convencida de que a taxa média de variação da função N pedida(sendo, neste caso, função N o tempo disponibilizado aos alunos para realização do dito exame e aos profs para suportarem a hercúlea missão) não é nem positiva nem negativa: é sempre, sempre excessiva!

6.17.2012

SÍNDROME DE ESTOCOLMO

São mais, muitos e muitas mais, aqueles e aquelas que dela sofrem Tenho andado mais atenta ao fenómeno desde que me apercebi de que isto se passava com pessoas próximas e de quem eu nunca esperaria algo semelhante. Claro que para isto acontecer, o estado psicológico da vítima tem de ser particular pois uma pessoa que se identifica com o seu agressor, de certeza que não estará muito bem da tola.

A designação deste fenómeno surge em referência ao famoso assalto de Norrmalmstorg do Kreditbanken em Norrmalmstorg, Estocolmo que durou de 23 de agosto a 28 de agosto de 1973 durante o qual as vítimas ganharam simpatia pelos seus captores, defendendo-os mesmo perante a justiça. E parece que a coisa se desenrola assim: primeiro, as vítimas começam por identificar-se emocionalmente com os sequestradores, a princípio como mecanismo de defesa, por medo de retaliação e/ou violência e pequenos gestos gentis por parte dos captores são frequentemente amplificados... Em segundo lugar, é importante observar que o processo da síndrome ocorre sem que a vítima tenha consciência disso. A mente fabrica uma estratégia ilusória para se proteger...

Mas de todas as situações em que a síndrome de Estocolmo pode acontecer (sequestro, cenários de guerra, sobreviventes de campos de concentração, pessoas submetidas a prisão domiciliária por familiares, vítimas de abusos pessoais, como mulheres e crianças), aquela que mais me tem intrigado é o caso de violência doméstica e familiar em que a mulher é agredida pelo marido e continua a amá-lo e a defendê-lo junto da família e dos amigos como se as agressões fossem normais. Em bom português: ela leva uma tareia do camandro, aparece de olhos negros, nós sabemos o que aconteceu mas ela diz que tropeçou e que caiu.

A melhor maneira de tratarmos esta síndrome de Estocolmo surge cedo, logo na escola primária. E pode, a meu ver, muito bem ser identificada na literatura infantil, no clássico conto francês, escrito por Marie le Prince de Beaumont, "A Bela e o Monstro" que conta a história de uma menina muito bonita e inteligente que é vítima de cárcere privado por um MONSTRO, e por fim desenvolve um relacionamento afetivo e casa-se com ele.
Atenção, MUITO IMPORTANTE: este conto tem de ser trabalhado como deve ser ou as crianças ainda ficam a adorar o Monstro e depois correm o risco de vir a casar com ele...

6.16.2012

ZEN AND THE ART OF HOUSEKEEPING


“I try to think of housekeeping as a short mental vacation — let my mind freewheel like I do on a walk or a swim.  
I sometimes come up with solutions to problems I didn’t even know I had.”  

Housekeeping is repetitive, monotonous and makes ME feel miserable. But can be very conducive to pondering the questions of life while, I can assure you. I took the day out for cleaning and putting things into order and as I go about my house, I get overwhelmed at everything that needs order... So, I stop a bit and come to the laptop or to the window or to the terrace or to another cigarette... The fact is that I realized I had clothes waiting for ironing since last summer... and that's a... real terrible fact! 

Staying home in a mission like this is also a very powerful way to send away some trash... and any piece that's broken, ugly or irritating goes straight to the trash bag... This saturday mission is also strong to lead me to the chocolate boxes I have been hiding from myself but, who cares? Today I do not care too much... like Scarlett O’Hara, will think, “Tomorrow is another day.”




HISTÓRIA

Esta é uma simples história de um incêndio emocional vivido entre duas cidades com uma terceira a fazer de amante.

AS PALAVRAS

Hoje acordei com palavras...a pensar em palavras... nas palavras...
Sei o crime da palavra, da fatalidade do sim e do não... Sei que os atos valem mais do que as palavras e sei que elas nos condicionam o pensamento. Sei que lutar com palavras é a luta mais vã, sei de palavras com poucas ideias, palavras vazias e frases-feitas... e sei mesmo que, em última instância, quando estamos irremediavelmente sós, as palavras não servem para nada.

Mas eu preciso de palavras como do ar... Sim, há palavras que nos beijam e há as outras, as palavras que nos matam (melhor, as que me matam...) como se fossem punhais.

Falávamos há dias entre amigas e algumas gargalhadas sobre o tema e recordei de imediato a minha profunda sensibilidade às palavras quando, após falar cerca de quarenta e cinco minutos com um meio conhecido, amigo de uma amiga, ele encerrou o diálogo com a frase: - Boa noite, vou nanar! Ora, eu que nem com crianças aprecio particularmente a infantilização discursiva, arrepiei-me e, sim, encerrei ali e para sempre aquele processo dialogante que o dito sujeito inutilmente tentou prosseguir nos dias seguintes. O mesmo se passou tempos mais tarde com o indivíduo sensato e sensível, de boas famílias e intenções que, sentindo-se jà à vontade no discurso, desejou-me boas noites por sms acrescentando: 
- Boa noite! Banhoca tomada, leitinho bebido...
Pum catrapum pum pum... Foi o fim do que não tinha começado. Aquela frase entoou horas a fio pela minha cabeça e, os diminutivos usados, ainda hoje fazem efeito... 

É claro que temendo o elevado exagero do meu espírito crítico, pedi imediata ajuda às experts na matéria. Duas amigas. Uma, como eu, referiu apenas, sorriso largo e olhar manhoso: - Compreendo! A outra, mais benevolente, usou da sua capacidade engenhoso-discursiva para tentar explicar que, em determinados contextos, um homem maduro pode dizer que tomou banhoca e bebeu leitinho... mas não nos convenceu...

Pronto! Chego assim ao cerne da questão... Será que o amor ou a falta dele nos infantiliza? Será preciso dizer ao outro Gosto de Tu? E aqui confesso-me assustada com a minha galopante perda de sentido crítico... Julgo até ter respondido com um também Gosto de Tu, só talvez justificável porque, de facto, indubitável e inesperadamente, também gosto de ti!

6.15.2012

O TEMPO DA TRAVESSIA

"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos. " 

Fernando Pessoa

6.14.2012

MÉXICO

- Uma vez, quando era pequena, o meu pai levou-me ao México.
- Mas tu nunca foste ao México...
- Não, não fui. É verdade... tens razão... Mas não é preciso ir aos sítios para se estar lá. Nem é preciso ter pai.

DIAS QUE CORREM DEPRESSA

Há dias que correm muito depressa... E quando isso acontece, podemos fugir à frente do tempo mas ele persegue-nos e já não nos podemos esconder. Há quem viva além da conta... há quem se permita excessos sem precaução...há mesmo quem prefira sentar-se numa cadeira com tempo e alma e ficar ali, à espera que o turbilhão passe. Se passar... 
E há quem precise de olhar para trás para ver de onde vem porque simplesmente não sabe para onde vai... 
Por isso, te digo: há alturas na vida em que temos de voar...

O DRAMA DE PORTUGAL

Já todos os homens de letras o escreveram, de Garrett,  Eça,  Antero, a Pessoa e a Saramago... Trazemos desde o início uma fragilidade endémica que não conseguimos superar. Por momentos, parece que vamos conseguir... construímos velas e lançamo-nos ao mar... E até navegamos... Mas o barco acaba sempre por parar. É este o drama... o nosso drama, o drama do nosso atraso e da nossa dependência. Somos demasiado passivos face aos tempos... Precisamos de ideias novas e de alternativas, precisamos de pensar... Não precisava vir o Roosevelt dizer que a democracia se funda em coisas simples.  Nós sabemos que são as coisas básicas e simples que definem um povo e lhe dão a sua identidade. Essas duas coisas fundamentais e básicas, o trabalho e a educação, perderam-se em Portugal. E sem eles, perdemos o caminho...
Não nos iludamos, de facto. Ou nos salvamos ou ninguém nos virá salvar... Nem o D. Sebastião...

DE DUBLIN A GALWAY

Hoje de manhã a caminho do trabalho,  ouvi que a Aung San Suu Kyi vem à Europa após mais de vinte anos de ausência e que, no seu périplo, vai encontrar-se com Bono Vox em Dublin. Recordei de imediato a cidade e o país...
Decidi passar o meu último aniversário na Irlanda. Estava de férias e sair de Lisboa para um outro local pareceu-me interessante. Num ápice, procurei e mal dei por mim já tinha colocado o código do  cartão de crédito. Há impulsos a que não se consegue resistir...

Cheguei ao aeroporto de Dublin por volta das sete horas da tarde. Pequeno, confortável e suficientemente acolhedor. Apanhei o autocarro da Airlink por 6 euros para o centro da cidade, mais propriamente para O'Connell Street, de onde seria fácil encontrar outro transporte para o meu hotel. Saí na O'Connell, uma das mais largas avenidas da Europa (desenhada por Luke Gardiner em 1740) e apanhei o tal autocarro conduzido por uma senhora que andou literalmente comigo à procura do hotel. Insólito, sim! Mas aconteceu. Ela ia conduzindo o autocarro devagarinho até o encontrar e garantir que me deixava à porta. E era um autocarro público! Começou aqui a minha simpatia pelos irlandeses. Desde a faculdade que me recordava das anedotas dos ingleses para os irlandeses, algo semelhante ao que acontece com as anedotas sobre alentejanos.

Povo afável e festivo, os irlandeses celebram a vida a todo o momento. Andei por Dublin como se fosse uma pequena cidade do interior de Portugal, parando obrigatoriamente todos os fins de tarde no Temple Bar para uma pint de Guineess ou duas, a aquecer a alma que em Dublin faz frio em fevereiro. O Temple Bar é a catedral de Dublin, onde tudo acontece e ponto de encontro de locais e estrangeiros... mas há centenas de pubs em Dublin, basta escolher.
Dublin é uma cidade para se percorrer a pé. Rica em edifícios de estilos georgiano muito bem conservados, visitar as suas catedrais é obrigatório (a St. Patrick Cathedral  é a maior igreja protestante da Irlanda e considerada a catedral do povo e a Christ Church Cathedral foi a primeira igreja de Dublin fundada em 1038) mas acabamos quase sempre por acabar no Trinity College, cuja livraria tem mais de três milhões de livros... ou para dar de frente com a estátua de Oscar Wilde ou de James Joyce. Eu que gosto de cafés, tento explorá-los nas cidades por onde passo e em Dublin, o Bewleys em Grafton Streer é um sítio a não perder, onde podemos observar as senhoras irlandesas a beber o seu chá. Claro que quem visita Dublin ou qualquer outra cidade daquelas paragens não resiste à oferta de livros fantásticos em segunda mão a 1 euro ou 50 cêntimos nas muitas lojas Charity que se encontram a cada rua. Os irlandeses são verdadeiramente um povo de escritores e de leitores... Dublin, cidade calma e acolhedora, onde a literatura paira no ar assim como o espírito de sobrevivência dos muitos milhares que tiveram de emigrar aquando da Grande Fome (The Great Famine foi um período de fome, doenças e emigração demassas que dizimou a irlanda entre 1845 e 1852).

Mas Dublin não é a Irlanda. E o comboio é uma das melhores formas de conhecer o país. Da estação de Heuston, a viagem demore cerca de 3 horas e custa cerca de 45 euros.  Optei por Galway em vez de Cork. Qualquer dos sítios serviria para me deixar sentir o outro lado... Mas Galway, uma pequena vila costeira e considerada por muitos um dos locais mais descontraídos do oeste da Europa Ocidental, tem um estilo de vida sereno e boémio, indo todas as suas ruelas dar ao mar. Conhecida com o terra das tribos durante a Idade Média (por ter sido governada por 14 tribos bárbaras), realiza uma feira semanal onde a música celta é soberana e os fish and chips também.

Regressei de Dublin no dia do meu aniversário com a frase do Bernard Shaw em mente:
 "Ireland, sir, for good or evil, is like no other place under heaven, and no man can touch its sod or breathe its air without becoming better or worse."
- George Bernard Shaw

AT THE END EVERYTHING WILL BE OK

"At the end everything will be ok!
And it it's not ok it's because it's not the end!"

in The Best Exotic Marigold Hotel

6.12.2012

QUANDO...


Pediu-lhe para definir o que sentia e ela respondeu-lhe:

" - Sabes, quando, de repente, tudo aquilo a que estavas habituado, deixa de fazer sentido? Quando te apetece parar os relógios e ficar abraçado para sempre? Quando sentes o teu mundo desabar porque, de súbito, esse deixou de ser o teu mundo? E quando olhas em redor e a pessoa que tu amas não está e não percebes porquê? Quando te sentes incompleto, estranho, inseguro, carente... porque simplesmente te apavora a ideia de não seres amado desta forma louca e brutal? Quando qualquer sinal é suficiente para te fazer vibrar outra vez? Fazes ideia do que é amar de novo, quando já nem te lembravas como era? E querer tudo do outro, sem concessões? Sabes o que é não querer restos nem migalhas mas querer dar e receber tudo, tudo, tudo...? 




Achas que algum dia vais entender o que é sentir tudo isto ao mesmo tempo?"

EXCÊNTRICO


meu pai era um homem alto, magro, de olhos azuis cristalinos e rosto perfeito. Era um homem estranhamente elegante que me habituei a ver à distância nos seus espaços de eleição: a sua secretária, onde lia e escrevia avidamente, e o canto do quintal, sob aquela imensa amendoeira que nunca, que me lembre, deu algum fruto.

Era um homem excêntrico, de uma excentricidade que incomodava. Na forma de agir, de falar, de viver. 

Os seus hábitos escandalizavam. As suas palavras, sempre novas, deixavam-me inquieta. Era demasiado diferente dos demais... 

Mas as suas leituras, os seus livros, os seus poemas permanecem em mim. 

Sinto saudades de o ver. Acordo todas as noites a olhar para os seus olhos azuis a devolverem-me um sorriso.

Não o vi morrer. Morreu sozinho como morrem todos os HOMENS. Só espero que tenha sido devagarinho, como se estivesse a adormecer.

CICATRIZES


Não tentes enterrar a dor... Porque ela estender-se-á pela terra, sob os teus pés; infiltrar-se-á na água que tenhas de beber e envenenar-te-é o sangue. 

As feridas fecham-se, mas ficam sempre cicatrizes mais ou menos visíveis que voltarão a incomodar quando mudar o tempo, lembrando-te na pela a sua existência e, com ela, o golpe que as originou. 

E a recordação do golpe afectará as decisões futuras, criará medos inúteis e tristezas vis, e crescerás como uma criatura apagada e cobarde. 

Para quê tentar fugir e deixar para trás a cidade onde caíste? Pela vâ esperança de que, noutro local, num clima mais benigno, já não te doerão as cicatrizes e beberás uma água mais limpa? 

Em teu redor erguer-se-ão as mesmas ruínas da tua vida porque para onde quer que vás, levarás a cidade contigo.

Não há terra nova nem mar novo; a vida que não aproveitaste ficará por aproveitar em qualquer parte do Mundo.

A HISTÓRIA DO DESEJO

Um homem estava muito doente e experimentou todos os tipos de terapia, mas nada o ajudava. Então foi a um hipnotizador e este deu-lhe um mantra para ele repetir continuamente: 

"Eu não estou doente." Durante pelo menos quinze minutos de manhã e quinze minutos à noite. "Eu não estou doente, eu sou saudável." E durante todo o dia, sempre que se lembrasse, deveria repeti-lo. Ao fim de alguns dias ele começou a melhorar. Dentro de algumas semanas 
ele estava completamente bem de saúde.


Então o homem contou à sua mulher:
 - Isto foi um milagre! Achas que devo ir a este hipnotizador pedir outro milagre? É que ultimamente não tenho sentido desejo sexual e a nossa relação sexual está quase estagnada. Já não há desejo.
A mulher ficou contente. Ela disse:
 - Vai, porque começava a sentir-me muito frustrada.
O homem foi ao hipnotizador. Quando regressou, a mulher perguntou-lhe:
 - Que mantra, que sugestão é que ele te deu agora?

O homem não lhe contou mas ao fim de algumas semanas começou a recuperar o desejo sexual. Ele começou a sentir desejo novamente. Então a mulher ficou muito intrigada. Ela perguntava-lhe constantemente, mas o homem ria-se e não dizia nada. Então um dia, enquanto ele estava na casa de banho de manhã a fazer a sua meditação, ela conseguiu ouvir o que ele dizia: 

"Ela não é a minha mulher. Ela não é a minha mulher. Ela não é a minha mulher."