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1.18.2013

ADEUS

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
gastámos tudo menos o silêncio.
gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
Gastámos as mãos à força de as apertarmos,
Gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro,
Era como se as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha par te dar.

Às vezes tu dizias: os  teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mais isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje sao apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
Uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
Já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenha a certeza
de que todas as casas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar,
dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse as palavras estão gastas.

Adeus.

Eugénio de Andrade

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