“Já lá
estou antes de chegar e ainda ficarei depois de ter partido.”
Diderot
A Cuba não tinha ainda resolvido ir. O mundo é
tão infinitamente vasto e a sensação que me assalta é que não vou conseguir
conhecer senão uma ínfima percentagem.
Surgiu esta oportunidade. Não se nega nunca a possibilidade de conhecer algo de novo. E muito menos numa altura em que os dias são cinzentos, escolher roupa de verão, comprar um
protector solar e partir para praias de areia branca e mar azul é
rejuvenescedor.
Dou por mim enroscada já numa manta azul e a
ouvir a rota prevista: Açores, Bermudas, Nassau e Varadero. Neste momento, a sensação infernal e trepidante
pelo corpo e pela cabeça, provocada por este monstro a levantar voo para 9
horas de viagem. Continuo a escrever, a caneta tomba, os ouvidos palpitam e
pela minha mente passa algo indecifrável, ruído, mal-bem estar, receio, prazer. Tudo isto me assalta em catadupa como a um barco
sem almirante. O meu coração está cheio e a minha mente repleta. Todas as
sensações do mundo se misturam em mim neste momento.
A visão de Havana
enternece e revolta. Uma vaga de tristeza passa por mim. As cores esbatidas das
casas contrastam com o colorido das roupas de quem passa. Lembro-me da rumba e da salsa, do ritmo
vertiginoso de quem dança num país que vive devagar. Passo pelo município da
Playa, um dos 15 que tem Havana. Alguns hotéis de 5 estrelas ferem a paisagem.
A zona rica de Havana, dizem-me. O bairro de Miramar fora o bairro das pessoas
ricas que o abandonaram aquando da revolução na esperança de aí voltar. Hoje
essas casas são, na maioria, embaixadas. Cruzo a 5ª avenida; parece irónico
como Cuba suporta o legado cultural dos E.U.A.: o dólar, a 5ª avenida ou
Avenida de las Americas.
Desespero calmamente com as longas esperas para
entrar e sair do país. Pouco ou nada comprei. E ainda bem. Senti-me,
bruscamente, menos consumista. Tudo teria sido pago só e apenas em dólares
americanos num país embargado pela América do Norte.
Em Cuba não há grandes diferenças sociais. A
grande elite é formado pelo Governo. Fico com vontade de rir.Fundada em 1519, já em 1492 Cristovão Colombo
tinha alcançado o oriente de Cuba. O povo cubano resulta de uma miscigenação
entre três culturas diferentes: a espanhola, a indígena e a africana. É isto o
creolo. Aquele que se passeia vagarosamente pelo Malécon, os sete quilómetros à
beira-mar
Onde namorados, crianças, velhos, turistas e
prostitutas se misturam indiscriminadamente.
É como se tivessemos parado no tempo. Mais precisamente
nos anos cinquenta. Havana move-se calmamente. Os Lada e alguns Cadillac
deslizam sem businar. Fidel Castro discursa horas indefinidamente no seu tom
cadenciado e monótono.
Os velhos sentam-se nos portais, fumam charuto e
deixam os dias passar.
As praias são muito azuis. O sol brilha todos os
dias, embora nem sempre com a mesma vontade. Os hotéis vivem. O resto não.
Varadero, a Playa Azul, é o destino preferencial dos turistas. É pecaminoso ver
as lojas de jóias do Hotel quando lá fora o leite é racionado e o ordenado
mínimo escandaloso.
Observo as prostitutas que nada pedem em troca.
Lembro-se de São Cristovão de Havana cujo centro histórico é património da
Unesco, dos pedintes de olhar sorridente e canso-me de ali estar. Lembro
Hemingway. O Velho e o mar.
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