A minha mãe sofria da doença de Parkinson à mistura com Alzheimer.
Por isso, dada a sua situação de demência foi internada num lar onde eu e a minha
a visitávamos aos domingos e sempre que podíamos. Numa dessas visitas ao lar, pediram-me
para levar livros e revistas com vista a criar um espaço de leitura e lazer.
Não hesitei. Recolhi alguns livros e muitas revistas que espalhei
orgulhosamente pelas mesas. No fim-de-semana seguinte, ao visitar a minha
querida mãe, deparei-me com várias senhoras, idosas e doentes quase todas, a
folhearem de olhos a brilhar as páginas de Máximas, Vogues, Marie Claires e
afins que vou acumulando, com ar de quem redescobre o sabor das coisas boas…
das coisas belas… que a doença e a velhice lhes tirou. A minha mãe, que sempre
gostou de moda e desenhou durante muitos anos, os seus próprios modelos (e os
meus…), quando eu me preparava para regressar a Lisboa, surpreendeu-me com um
momento de sensatez, raro no seu quotidiano de demência, e disse-me, com os
olhos a brilhar:
- Vi numa daquelas revistas que
trouxeste um vestido que quero fazer. Compra-me, se faz favor, tecido em seda
azul, linhas do mesmo tom e uma tesoura que corte bem…Deixei o lar, mais uma vez, com lágrimas nos olhos. Mas desta vez, eram lágrimas diferentes… Lágrimas de cumplicidade para com quem percebe o valor que um simples vestido azul pode ter na vida de uma mulher!